Os limites do nosso cérebro
Os melhores especialistas mundiais debatem as áreas das Neurociências e das Emoções, no Porto.
Apesar de todos os avanços, ainda há muito por descobrir no cérebro humano (aqui retratado numa ressonância magnética)
Sonhos, telepatia, pré-cognição, clarividência. A possibilidade de antever o futuro, de ver o que se passa num ponto distante à mesma hora. Mover objectos com a mente, fazer escorrer água do tecto num sítio onde não passam canos, adivinhar um baralho inteiro de cartas pela face inversa, alterar combinações numéricas através de emoções colectivas ou até fazer disparar a conta do telefone apenas pela presença física. E "poltergeist", casas assombradas, mágicos de palco, espionagem psíquica feita pela CIA, premonições de acontecimentos trágicos. Ficção científica? Nem por isso. É o que diz a comunidade científica que estuda o Homem tanto do ponto de vista físico como espiritual.
'Aquém e além do cérebro', que este ano explora as 'Emoções', é o 7º simpósio organizado pela Fundação Bial que termina hoje na Casa do Médico, no Porto. Não se pense, no entanto, que este é um congresso de mágicos de anúncios de jornal ou bruxas de bolas de cristal. A parapsicologia e a parafisiologia são ciências estudadas com método científico. E por cá se encontram os melhores especialistas mundiais das áreas das Neurociências e das Emoções. O simpósio, dividido em três sessões - 'Neurobiologia das emoções', 'Emoções e fenómenos paranormais' e 'Emoções e comportamentos sociais' -, procura responder a algumas perguntas que desde sempre inquietam a própria Humanidade. De que modo as acções são afectadas pelas emoções? Como é que estas se relacionam com os fenómenos parapsicológicos? Como é que os sonhos pré-cognitivos influenciam o futuro? Qual é a origem das premonições colectivas do 11 de Setembro? A telepatia e o "poltergeist" são mito ou realidade?
"Estes fenómenos, embora espontâneos e não controlados, existem e estão comprovados. Mas não sabemos como acontecem, como se processam e para que servem", afirma Mário Simões, psiquiatra e professor da Universidade de Lisboa e membro da comissão organizadora do evento. "Grande parte da comunidade científica "mainstream" não aceita o estudo da espiritualidade, que rompe com paradigmas lógicos", explica. Contudo, garante que estes fenómenos são analisados através de métodos científicos que passam pela hipótese, experimentação e avaliação.
Dean Radin, investigador e director do Institute of Noetic Sciences, na Califórnia, admite que muitos fenómenos 'paranormais' são "fantasia, entretenimento e fraude", mas garante que existem métodos científicos que permitem distinguir o que é falso do que é real. Investigador de fenómenos de consciência global ou premonições colectivas, tem vindo a desenvolver, desde 2000, um projecto (www.gotpsi.org) que consiste em avaliar, tendo em conta uma enorme base de dados estatísticos, a capacidade de premonições colectivas. Nos dias que antecederam o 11 de Setembro, houve uma grande oscilação de resultados que poderiam indicar premonições psicológicas reprimidas. "Isto quer dizer alguma coisa, que houve gente a pressentir o que ia acontecer. E falamos de uma base de dados que regista milhares de dados por dia", explica. "Há uma série de fenómenos que acontecem, como a telepatia ou sonhos pré-cognitivos, mas não sabemos porquê. Este é um processo exploratório. O desafio da parapsicologia é tornar estas experiências espontâneas em experiências controladas. Há muito de espiritual, embora não no sentido religioso do termo", diz ao Expresso. "Estes fenómenos não acontecem como os vemos retratados na televisão ou no cinema, mas existem", acrescenta.
A portuguesa Marta Moita, investigadora principal do Grupo de Neurobiologia do Instituto Gulbenkian, estuda os mecanismos biológicos do medo, com testes em ratos. "Não é um medo consciente e humano, mas derivado de estímulos controlados. Se percebermos estes mecanismos, conhecemo-nos melhor a nós próprios. A área das neurociências ainda tem muitas regras do jogo para estabelecer", explica. A Fundação Bial conta com os altos patrocínios da Presidência da República, do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e da Ordem dos Médicos.
In Expresso. Pedro Neves
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